Planeta água sustentável

A qualidade da água em Natal

Água: um século de descaso
 
A discussão sobre captação, efluentes, qualidade e contaminação da água em Natal não é recente. Segundo um relatório elaborado em 2000 pelo Conselho Municipal de Planejamento Urbano e Meio Ambiente, o primeiro registro de discussão sobre esses assuntos data de 1904.

Nestes 99 anos, estudos, pesquisas e conferências têm apontado a necessidade de tratamento dos efluentes (esgoto), mostrando que há uma preocupação crescente com o aumento desordenado da cidade, a impermeabilização do solo, a construção de fontes de recarga, a preservação dos principais pontos de recarga natural e a conscientização da população a respeito do problema. Mas pouca coisa foi feita nesse sentido. “Até 1998, qualquer informação sobre a qualidade da água era considerada sigilosa pelo governo. Isso só começou a mudar em 1999, quando fizemos uma mesa-redonda e conseguimos ter acesso a alguns documentos. Mesmo assim, diante da gravidade da situação, a divulgação e conscientização ainda estão bem abaixo do necessário”, diz João de Deus, o presidente da Associação dos Geólogos do Rio Grande do Norte.

Tanto o geólogo como o professor Geraldo de Melo acreditam que melhorar a qualidade da água em curto e médio prazo já não é viável economicamente, mas medidas devem ser tomadas para que ela não piore ainda mais. “A menos que isso seja feito, dentro de pouquíssimo tempo teremos de retirar a água do subsolo, que já foi água mineral, e colocá-la em grandes depósitos para poder tratá-la”, diz João de Deus. 

Atualmente, o único processo usado para a eliminação do nitrato (que, se ingerido em grandes quantidades, pode provocar doenças como o câncer e a doença do sangue azul — fatal para crianças de 0 a 6 anos) utiliza dessalinizadores, constituindo um dos tratamentos mais caros do mundo. Nem mesmo os EUA conseguiram manter uma usina de dessalinização funcionando por muito tempo devido aos altos custos desse processo.

Na busca de soluções mais baratas, a Secretaria de Recursos Hídricos do Rio Grande do Norte vem trabalhando, juntamente com a UFRN, na possibilidade de utilização de plantas com capacidade de absorção de nitrogênio. “Dessa forma, acreditamos que haverá recarga do lençol sem nitrato. A proposta é que comecemos a pesquisa pelas lagoas de estabilização. Mas isso é apenas um início. Vamos ter de esperar para saber quais serão os resultados dessa pesquisa”, diz o secretário Josemar de Azevedo.

Para ele, no entanto, as pesquisas devem vir acompanhadas de outras ações, como a finalização do sistema de coleta e tratamento de esgoto em toda a cidade, a criação de uma política e até de leis que viabilizem uma recarga melhor do aqüífero, o cadastramento dos poços existentes, a proibição da construção de novos poços e, principalmente, a criação de uma equipe de fiscalização para a utilização dos recursos hídricos (atualmente, a Secretaria conta apenas com dois fiscais para todo o estado) e a conscientização da população sobre o problema. “Hoje, ainda existe falta de sensibilidade das autoridades em relação à questão. É preciso lutar para que a cidade consiga um sistema de coleta e tratamento de esgoto. Temos tantos problemas que as coisas menos vistas são deixadas de lado. O povo precisa fazer pressão, porque o governo só trabalha nessas condições”, diz Azevedo.

O ideal seria que a conscientização de que a água de Natal está longe de ser aquela água pura que a maioria da população acredita que ela seja começasse a acontecer o mais rápido possível. Sem verbas (dotação orçamentária) para este ano, a principal ação da Secretaria se restringiu à criação do Instituto de Gestão de Águas do Rio Grande do Norte, que, na prática, deverá apresentar resultados apenas a partir de 2004. A falta de estrutura é tanta que “nem mesmo a Secretaria possui funcionários; a maioria vem de outras secretarias. Neste ano, o Instituto deverá apenas conhecer melhor a situação, para, em 2004, quando já possuir um orçamento, começar a atuar, de preferência em um trabalho integrado com a Agência Reguladora de Tratamento, a CAERN e a Secretaria Estadual”, completa o secretário.

Muito mais do que evitar gastos com os futuros tratamentos de água, evitar o desperdício e a contaminação significa também ganhos significativos em outras áreas da administração pública. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, para cada US$ 1.00 gasto em saneamento básico, US$ 4.50 que seriam empregados em despesas médicas são poupados.



=)
Postado Por: Madson Gilcyê

0 comentários:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Você confia na qualidade da água fornecida pela CAERN à população?

Alimente os peixes...

Seguidores

Visitantes:

Tecnologia do Blogger.
Seja bem-vindo. Hoje é